Inês Santinhos Gonçalves
Descobri que o Governo de Macau preza a justiça social acima de tudo. Temos vindo a ser muito injustos, sempre a criticar, sempre a apontar o dedo, que as casas estão mais caras, que o supermercado não se pode, só queixinhas. Afinal, ficámos a saber que o Governo, ciente do aumento do custo de vida, está a impedir os portugueses de virem para Macau com salários inferiores a 20 mil patacas – nalguns casos até mais. Se as pessoas não podem cá estar condignamente, é melhor que não estejam. O Governo de Macau não está aqui para explorar ninguém.
Será certamente má vontade minha, mas há questões que me intrigam. É que ainda na semana passada saíram os resultados do coeficiente de Gini que apontavam para uma maior distribuição da riqueza. Feitas as contas, a população de Macau tinha mais dinheiro que há cinco anos.
Além disso, se menos de 20 mil patacas por mês não garantem condignidade, porque é que o salário mínimo recomendado para as empregadas domésticas é de 2500 patacas? Já sei: é porque residentes e não-residentes são tratados de maneira diferente em Macau (são condignidades oito vezes inferiores). Ah, espera, também não pode ser isso. O Governo disse à ONU que os trabalhadores residentes e não-residentes eram tratados da mesma forma, perante a lei e na prática, e que têm direito a salários equivalentes para trabalho equivalente. Se o Governo de Macau diz, só pode ser verdade.
E depois há ainda a questão do salário mínimo, fixado pelo Governo em 28 patacas por hora – que feitas as contas a oito horas por dia, seis dias por semana, não chega a seis mil patacas por mês.
Será que o Governo não quer atribuir residência a trabalhadores vindos de outro país por haver falta de trabalho para quem cá nasceu? Parece que também não, já que a taxa de desemprego é abaixo dos dois por cento e a maioria das empresas se queixa – e algumas fecham – por falta de mão-de-obra.
Manifesto-me confusa, mas pode ser da minha matemática, que nunca foi grande coisa. Isto de ter meios de subsistência tem muito que se lhe diga e parece que muita gente tem sido excessivamente poupadinha. Pelo sim, pelo não, é melhor começarmos todos a pedir aumentos.