Com os meus botões
Lou Shuo
Se apanhar o metro na zona de Haidian ou Wudaokou em Pequim, bairros onde se localizam os melhores institutos de ensino superior da China, curiosamente, é comum ver-se os meninos “dando aulas” sobre dicas de namoro às meninas ao seu lado. Essas conversas nas carruagens de metro entre os amigos em Pequim são como a poluição no ar nessa cidade – se sentem diariamente.
A crise de procurar o grande parceiro da vida, para a maioria das mulheres chinesas com idades superiores a 25 anos, vem da pressão da família. Uma palavra foi inventada para definir esse grupo de solteiras, “Sheng Nu”, cujo significado indica as mulheres que sobram na sociedade moderna.
Para evitar ao máximo a possibilidade de ter uma “Sheng Nu” em casa, os pais chineses fazem tudo para arranjar um marido futuro ideal para as suas filhas. Os namoros arranjados de hoje em dia começam por trocas de contas do Wechat. Os pais motivam as suas filhas para que conversem com os rapazes “bem seleccionados” de fonte confiável que passa a “censura familiar”.
Mas porque é que os pais chineses ficam tão em pânico com o estado civil das suas filhas? Está relacionado com a concorrência social? Ou é apenas outro indicador da persistência de valores da família tradicional da China?
É um pouco de tudo. Segundo alguns estudos da área da sociologia, a maioria desses pais, de facto, não possui um nível de educação relativamente alto, e as suas condições financeiras também não permitem muito optimismo. A sensação de insegura em relação ao futuro faz com que as filhas se tornem vítimas de casamentos apressados.
Também vale a pena pensar um pouco sobre as razões da dificuldade em namorar para as chinesas, que me parecem um pouco irónicas neste caso. Como diz a minha prima de 29 anos: “não sei como namorar, pois nunca aprendi”.
Quem mais sofre as preocupações familiares do namoro, em princípio, é a geração pós-anos 1980, crescida sob a política do filho único. Essa geração, de alguma maneira, testemunha a enorme transformação nacional, aqueles anos em que a China acelerava o seu ritmo de desenvolvimento para não se atrasar. Enquanto a sociedade passa a ser modernizada, a educação familiar ainda segue as regras antigas, e regras contraditórias.
“Não podes sair ou trocar mensagens com os rapazes da escola” é uma ordem comum dos pais e dos professores dada às meninas com idades de entre 16 anos e 19 anos. O foco da vida para os jovens chineses é só estudar, é entrar numa boa universidade. A atracção natural entre as duas pessoas, infelizmente, é condenada como algo proibido e castigada na mente de muitos chineses ao longo do seu processo de crescimento. A aprendizagem da relação interpessoal é uma matéria reprovada para a maioria dos que fazem parte dessa geração.
Penso que “as mulheres que sobram” merecem mais entendimento e respeitos dos pais. O encontro com a outra metade na vida às vezes pode ser tão simples como uma espécie de instinto, ou tão difícil quanto o tornam o stress da sociedade e da família.