[De vez em quando…]
Jorge Morbey*
A Política é, em geral, o governo dos homens e a administração das coisas e, em particular, a organização dos Estados. A Política é sobretudo um agir que dispõe os meios em relação aos fins e pensa os fins em relação aos meios. A Política é, assim, a arte do que é possível realizar. A Política não dispensa a dimensão moral. Actividade que engloba as esferas pública e privada, à Política está vedado alhear-se do universo ético. Servir a comunidade, promover a felicidade colectiva, realizar o bem comum, são etapas que a subordinação da Política à Moral têm de percorrer para atingir o seu fim último que consiste no reconhecimento pleno e universal da eminente dignidade da pessoa humana.
O exercício da Política é uma actividade simultaneamente nobre e humilde.
A Política não é um modo de ganhar a vida, nem de fazer fortuna, ou de simplesmente garantir um pé de meia.
A Política é serviço voluntário à comunidade. Os políticos candidatam-se ou aceitam convite para o desempenho de cargos públicos. Não são mobilizados para servir a Pátria. Oferecem-se para servir a comunidade. Merecem uma justa retribuição durante o desempenho das suas funções públicas. Se o seu desempenho merecer, devem ser agraciados com veneras apropriadas.
Diferente é o serviço militar imposto por lei e prestado à Pátria. É um dever de cidadania exercido por tempo limitado.
O serviço militar obrigatório não se confunde com o exercício da actividade mercenária.
A designação original de mercenário aplica-se ao militar que se alista numa força armada estrangeira mediante retribuição estipulada por contrato. Os contingentes de mercenários eram formados normalmente por gente pobre que encontrava na caserna o seu ganha-pão habitual. Muitos enriqueceram. Nem sempre pelas boas práticas. São conhecidos também por “soldados da fortuna”. Profissionais da guerra combatendo por interesse económico individual. O contingente de mercenários mais conhecido é a Legião Estrangeira.
Só por lamentável equívoco pode querer atribuir-se aos ex e futuros titulares de cargos públicos em Macau um estatuto que os aproxima mais do exercício da actividade mercenária do que do amor pela Pátria e do serviço à comunidade.
*Professor universitário