Todos os olhos estão fixados em Davos, pequena cidade escondida nas encostas nevadas dos Alpes suíços. Ali se encontram os representantes dos grandes grupos económicos e os maiores dirigentes da alta finança. Ao tempo, por ali se dignam passar presidentes, primeiros ministros e altos funcionários do Estado.
Surpreendente foi encontrarem-se a falar, no mesmo auditório, duas das figuras mais mediáticas da sociedade actual: Donald Trump e Greta Thunberg. Ele, homem maduro, corpulento, de trunfa dourada e bem encapotado. Ela, pequena, franzina e vestida de modo muito simples, tendo apenas dezassete anos. Que contraste! Ambos, diria, pretendem defender a Humanidade. Mas ele, pelo poder económico. Ela, ao contrário, pelo respeito e atenção à natureza. Ele, bazófias e irónico. Ela firme e directa ao assunto, sem subterfúgios.
Ao escutar a Sagrada Escritura desta semana, e muito concretamente o Livro de Samuel, deparamo-nos com a tão conhecida passagem do Golias e David. Muito espontaneamente, associam-se as ideias. Greta, jovem, de aparência frágil, como David, surge vigorosa e com linguagem certeira e contundente. Do outro lado, Donald Trump apresenta-se convencido de que é o maior da história, musculado com a sua economia, e de olhar altivo sobre a diminuta sueca. Ela, porém, corajosamente, diante de todos, calados e mudos, ousa até afirmar «Venceremos…» E David, contra todas as expectativas, venceu também…
Se relemos a História da Igreja, não escapamos ao facto de ver que os grandes Reformadores foram sempre homens e mulheres de forte personalidade que assumiram, com determinação, a via da Humildade e testemunharam, com perseverança inabalável, a opção pela Simplicidade de Vida e pelo Serviço dos mais pobres e carenciados.
Eis a Humanidade como que estrangulada entre a Economia e a Ecologia. Esta, uma questão crucial com contornos de marcar a História da nossa Civilização: nós, homens e mulheres que damos início ao Terceiro Milénio e vivemos já as duas primeiras décadas do Século XXI .
A Verdade, nua e crua, continua a ser que a Humanidade e a Criação gemem, em profunda angústia. Os Pobres e os Jovens clamam por um futuro mais harmonioso. O Mar, a Terra e os Céus sentem-se feridos de morte. A Sociedade contemporânea tem de fazer opções e procurar seriamente soluções para enfrentar esta dramática realidade
Perante tal situação, tomemos, agora, o Evangelho deste Terceiro Domingo do Ano Litúrgico, que acompanha a Celebração do Ano Novo Chinês, o Lunar. Procuremos nele alguma inspiração. Não nos deixemos fechar no pensamento formatado, rígido e superficial do mundo actual. O texto apresenta-nos dois aspectos, que me parecem fundamentais compreender, antes de tudo mais, para que o homem e mulher contemporâneos consigam realizar qualquer mudança sobre o futuro da Humanidade.
O Evangelista São Mateus, apoiando-se num texto do Antigo Testamento, descreve uma situação do povo de Israel que expressa, no meu entender, algo que se assemelha aos dias de hoje: «O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz… para aqueles que habitavam na sombria região da morte, uma luz se levantou». Inundados pelos bens de consumo, dependentes compulsivamente duma sociedade que insiste, acima de tudo, no bem-estar, conforto, diversão, entretenimento e prazer e, por fim, dominados até à neurose pela tecnologia e informática, que gente estamos a formar? Tudo isto cresce como um tsunami de ondas negras e destruidoras da liberdade interior. Aumentam, de maneira assustadora, nos corações de tantos da nossa sociedade hodierna o vazio, a escuridão e o desespero. Mas, o pior é que não se reconhece o facto nem se aceita, com humildade, a necessidade de Luz na vida, que Jesus Cristo vem trazer…
«Arrependei-vos…», assim começou a pregação do Senhor Jesus, o Mestre. A mudança de coração torna-se , portanto, a exigência inquestionável de todo aquele que aspira a ser transformador da Humanidade. Este constitui o segundo aspecto inspirador do Evangelho
Luís Sequeira