Literalmente podemos assumir a tradução do nome de Macau em cantonês (Ou Mun) como sendo a Boa (Ou) Porta (Mun) também conhecido como A Porta da Baía pelas características geográficas de estar no Delta do Rio das Pérolas.
Em rigor, e recuperando o seu sentido etimológico, várias são as explicações que vamos encontrando na literatura existente para esta expressão, de entre elas citamos a que está divulgada pela Direcção dos Serviços de Turismo de Macau:
Etimologia: Significado de Ou Mun
…Antes da colonização portuguesa ocorrida no início do século XVI, Macau era conhecida como Hou Keng (“Ostra Espelho”) ou Keng Hoi (“Mar de Espelho”). O seu nome chinês (Ou Mun), que, à letra, significa “Porta da Baía”, parece ter origem no facto de a península de Macau ser habitada, antes da chegada dos portugueses, por várias povoações de pescadores e alguns camponeses chineses vindos das províncias de Fujian e Cantão…
(In: Síntese histórica de Macau na Direcção dos Serviços de Turismo de Macau)
Em síntese, Macau foi sempre uma Boa Porta quer no acolhimento de quem chega, quer para fins comerciais, quer para ligações multiculturais e porque não também para afirmar as estratégias que a Republica Popular da China vai consolidando.
É precisamente no contexto desta óptica de reflexão sobre as dinâmicas que Macau vai tecendo no período da pós-transição, que me surgiu a seguinte observação: Em menos de 20 anos Macau passa de porta de entrada de Portugal, Europa e Ocidente para a China para ser a Porta de Saída da ligação da China ao mundo Ocidental e não só.
Ora, tendo em conta as linhas gerais agora divulgadas por Pequim do plano para a Grande Baía (Cantão-Macau-Hong Kong) decorre daí que cabe a Macau o papel de ser o elo de ligação da China ao Mundo, promovendo o diálogo entre culturas entre outras referências.
Não faz muito tempo, pelo menos até 1999, Portugal fazia questão de incorporar no seu discurso oficial a relevância de Macau como porta de entrada para a Asia e em particular para a China, ou seja, assumia a particularidade de Macau ser o ponto estratégico da entrada para o mercado chinês, elevando a sua importância para o Ocidente na generalidade.
Passados estes anos do período da pós-transição assistimos à inversão do conceito (ou melhor dizendo da metáfora) onde Macau/RAEM passa então a ser uma Porta de Saída de uma estratégia que a vai aglutinando e absorvendo como elemento preponderante da ligação da China ao resto do mundo envolvendo-a nos grandes projectos e planos da Grande Baía, Pan-Delta e mais recentemente na Faixa e Rota que se vai desenhando.
Provavelmente, após algum período de desinteresse aparente no domínio do Fórum Macau, por vezes até apontada com referências negativas sobre o seu papel apenas decorativo de discursos sem efeito prático, iremos porventura assistir nos próximos tempos à sua revitalização.
Só que, também aqui, em termos já diferenciados da sua ideia original, onde o conceito de plataforma das relações da China com os países de língua portuguesa assumem um deslocamento para integrar a ampliação da rota marítima das cidades e países a integrar na Faixa e Rota deslocando-se para o sul do Oceano Indico, com Timor e Moçambique como referências e, rasgando para o Oceano Atlântico com os pontos de conexão (Angola, São Tomé e Príncipe, Guiné Equatorial, Guiné Bissau, Cabo Verde e o vasto Brasil) que o Fórum Macau poderá proporcionar.
Se tal acontecer, o Fórum Macau deixará de assumir lentamente o seu desígnio inicial de ser apenas uma plataforma das relações entre a China e os Países lusófonos para passar a incorporar também o papel de ser uma Porta de Saída da ligação da China com o resto do mundo, consolidada por via dos países de expressão lusófona. Será este o destino de Macau? Quem sabe, o futuro nos dirá, com a certeza porém de que em qualquer das situações Macau será sempre uma Boa (Ou) Porta (Mun).
Carlos Piteira
Investigador do Instituto do Oriente
Docente do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas / Universidade de Lisboa